Viver no centro da Europa tem contribuído, em muito, para o aumento da minha cultura gastronómica. A Suíça, sendo um país que muitos consideram pobre em gastronomia (e é, se comparado, por exemplo, com o leque de pratos que temos em Portugal), é o aposto quando associado a cultura e influência gastronómica (se pudermos falar disto nestes termos).
Os pratos tradicionalmente suíços, os das montanhas, pois claro, são de uma extrema simplicidade, traduzindo-se em ingredientes como o queijo, a batata e as carnes secas. Em contrapartida, se nos deslocarmos aos cantões que fazem fronteira com França, Alemanha ou Itália, a gastronomia entra em perfeita simbiose com a respectiva zona de influência.
Aos olhos de muitos, a Suíça nada tem para oferecer, excepto seguros, bancos e chocolate. No entanto, o que seria da sopa de cebola sem a tosta de queijo Gruyère? O que seria do nosso imaginário de queijo com buracos, sem o queijo Emmental? Em simultâneo, ao pequeno-almoço, quantos dos habitantes deste planeta optam por uma taça de müesli, com os cumprimentos do Suíço-Alemão Dr. Bircher-Benner? Já na vertente pastelaria, quem é que não sabe o que é o merengue Suíço?
Um dia, muito em breve, falarei um pouco mais da gastronomia do cantão onde residimos (meio francês, meio alemão), para perceberem o que vos quero dizer.
Gosto de saber a história dos pratos que confecciono, tanto quanto gosto de visitar mercados de produtos locais, para conhecer melhor o sítio onde estou e o que tem para nos oferecer.
O texto já vai longo e eu ainda não vos disse que receita vos trago hoje. Eventualmente já adivinharam pela fotografia de apresentação.
O prato que vos trago hoje traz com ele a curiosidade de tudo o que vos falei anteriormente. Trata-se de um prato que conheço desde sempre, feito vezes sem conta pelas mãos da minha mãe, e que hoje faço de olhos fechados.
O seu nome leva-nos para a culinária francesa e para uma moda que perdura, embora a sua verdadeira origem esteja num território medieval, de população germânica: o território de Alsácia-Lorena.
Da palavra Kuchen, torta, nasceu a palavra Quiche. Mais tarde, para definir a sua origem, os franceses acabaram por a chamar de Lorraine.
Se influências não faltassem, e em forma de desfecho, fiquem a saber que se juntarem cebola à receita de base, a Quiche deixará de ser Lorraine, passando a ser Alsacienne – que, aliás, é região vizinha e maravilhosa para conhecer, especialmente na altura do Natal, com os seus mercados de Colmar e Strasbourg.
Seguindo a receita original de Lorraine, a minha mãe adicionava-lhe apenas o alho francês. Hoje, cumprindo a tradição, esta é a receita que vos trago.
Quiche Lorraine
com alho francês
Ingredientes para 4-6 pessoas
200g de farinha
110g de margarina
1 ovo
50ml de água
sal q.b.
4 ovos L
350ml de natas
150g de bacon
300g de alho francês
manteiga q.b.
pimenta preta q.b.
noz moscada q.b.
Modo de Preparação:
Pré-aqueça o forno nos 180°.
Comece por preparar a massa, misturando a farinha e o sal com a margarina, a água e o ovo inteiro.
Misture, até criar uma massa homogénea. Faça uma bola, envolva com película e deixe descansar, no frigorífico.
Retire as partes mais escuras (que são mais rijas) e corte o alho francês às rodelas finas. Lave bem e escorra.
Numa frigideira, coloque uma noz de manteiga. Adicione o alho francês e deixe refogar. Adicione uma pitada de sal e outra de pimenta. Assim que bem cozinhado, retire do lume e reserve.
Aproveitando a mesma frigideira, frite um pouco o bacon, cortado às tiras finas, tendo o cuidado de não deixar fritar demasiado.
Estique a massa até ficar bem fina e coloque numa forma para tarte, de fundo amovível, devidamente untada e enfarinhada. Pode também fazer versões mini, os mais novos vão adorar – e o seu lanche do dia seguinte também!
Por fim, prepare o creme: misture as natas com os ovos batidos, tempere com sal, pimenta e um pouco de noz moscada (opcional).
Coloque as tiras de bacon por cima da massa. De seguida, envolva o alho francês no creme. Despeje o creme sobre a forma e leve ao forno, pré-aquecido, durante 35-40 minutos. Se utilizar formas pequenas 30 minutos bastarão.
A receita é simples e muito, muito gulosa. Come-se bem morna. Come-se bem fria. No prato ou na mão, para o lanche. As opções são muitas. Nenhuma desilude.
Espero que tenham gostado da minha sugestão de hoje.
Muito obrigada por continuarem por aqui comigo.
Até breve!
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