O livro de receitas da minha mãe nada mais é do que uma antiga agenda de 1965, do clube das donas de casa. Amarelado pelo tempo e com cheiro a livro velho, está agora comigo, dando-me a oportunidade de rever (e executar) algumas das receitas que sempre a vi fazer.
A agenda em questão é uma autêntica relíquia que não deve ser ignorada:
Muito embora algumas das receitas escritas neste livro estejam ultrapassadas, gosto de pensar que se hoje as fizesse, iam cheirar e saber exactamente ao mesmo que sabiam há 20 e tal anos atrás quando, ao ver a batedeira da Moulinex em cima da mesa e o livro de receitas aberto, sabia de antemão que vinha aí coisa boa.
Entre salgados e doces lembro-me de dois dos nossos preferidos:
Pudim de Peixe com molho de tomate
Quando chegávamos a casa, depois de um dia de escola, e víamos miolo de pão embebido em leite, sabíamos imediatamente que jantar nos esperava: pudim de peixe. A imagem do peixe vermelho a cozer não nos fazia torcer o nariz pois, afinal de contas, pudim de peixe não é peixe,é pudim. E se é pudim, é bom!
Ingredientes
500gr de peixe
azeite
salsa
80gr de miolo de pão
200ml de leite
5 ovos
2 cebolas médias
sal e pimenta
manteiga
pão ralado
Preparação
Comece por cozer o peixe, deixando-o arrefecer para o poder desfiar.
Pré-aqueça o forno a 200 ºC e ponha o leite a ferver. Assim que o leite ferva, coloque-o sobre o miolo de pão e deixe embeber bem.
Pique a cebola finamente e refogue-a num bom fio de azeite. Junte a salsa picada.
Assim que a cebola esteja bem refogada junte o peixe e misture. Adicione as gemas (previamente batidas) e o pão. Tempere com sal e pimenta e retire do lume, deixando arrefecer, enquanto bate as claras em castelo e unta uma forma de bolo com manteiga e a polvilha com pão ralado. Envolva cuidadosamente as claras em castelo (batidas até estarem bem firmes) no preparado anterior.
Coloque tudo na forma de bolo e leve ao forno durante 25-30 minutos ou até fazer o teste com o palito e este saír limpo.
Enquanto o pudim está no forno, prepare o molho:
Refogue 2 cebolas e 2 dentes de alho, cortados às rodelas, num fio de azeite. Junte 3 tomates médios pelados e picados, 2 colheres de sopa de polpa de tomate e um pouco de salsa. Tempere com sal e pimenta e deixe cozinhar durante cerca de 15 minutos. Quando estiver pronto, triture até obter um creme macio.
Torta recheada
Ainda me lembro do pano, impecavelmente esticado em cima da mesa e polvilhado de açucar, que aguardava a chegada do tabuleiro com bolo quentinho. Excepto que o pano não aguardava nada, quem aguardava era eu.
A maior parte das vezes nem podia provar a torta. A desculpa era sempre igual: “é para o mano levar para a escola”.
Sobre o recheio de chocolate nem valia a pena perguntar, estava sempre quente – e para queimaduras já eu tinha aprendido a lição com os marrons glacés do meu pai.
Em agradecimento ao sol, que decidiu voltar a brilhar nesta magnifica terra, substituí o chocolate preto por chocolate branco e envolvi-o num creme bem fresco.
Ingredientes
(todos os ingredientes à temperatura ambiente)
5 ovos
200gr de açucar
125gr de farinha
1 pacote de açucar baunilhado (usei baunilha em pó)
80ml de leite
açucar em pó
Preparação
Pré-aqueça o forno a 180 º C.
Bata muito bem as gemas com o açucar. Adicione aos poucos a farinha peneirada, acrescentando depois o leite e o açucar baunilhado.
Bata as claras em castelo (picos suaves) e junte ao preparado anterior, envolvendo suavemente.
Coloque a massa num tabuleiro, previamente untado com manteiga e forrado com papel vegetal, também untado. Leve ao forno durante 12 minutos.
Enquanto aguarda, estique um pano limpo na mesa e polvilhe-o de açucar em pó. Quando a torta estiver pronta desenforme-a sobre o pano e enrole.
Volte a desenrolar a torta e recheie com creme de chocolate ou outro recheio à escolha. Enrole de novo e deixe arrefecer completamente, antes de servir.
Para o recheio desta torta espalhei uma camada generosa de doce de morango e um creme feito com chocolate branco (100gr chocolate branco derretido; 200gr de queijo creme; 125ml natas ácidas).
No meu imaginário a torta da minha mãe nunca rachava nem havia acidentes na cozinha. A minha começou com 9 ovos no chão e acabou com uma cozinha polvilhada de açucar em pó. Citando o meu irmão, uma verdadeira “expressão natural do nosso talentoso património genético” – histórias para outros dias…
Uma excelente semana a todos!
Obrigada por estarem aqui comigo.
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